THIS IS NOT A PROTEST

Esta criação nasce da ideia de impacto. Impacto do som, impacto do corpo.

Numa interseção intensa entre música ao vivo e movimento coreográfico, numa parceria entre a Play False | associação cultural e a Escola Profissional de Música de Espinho - com 4 bailarinos/as e 4 percussionistas - esta criação habita o território do indizível. Entre o gesto que se manifesta e o silêncio que resiste, entre o compasso coletivo e a possibilidade de ruptura.

Toda a percussão começa com um impacto. O batimento ou o choque numa superfície, ressoando com a força de um corpo, simboliza o confronto com o espaço, com o sistema, com a ordem estabelecida.

Na percussão, o som não sussurra — explode e imprime.

A música percussiva não se submete ao controle, mas desafia-o - o corpo lança-se contra as leis da gravidade. No campo social, o som é igualmente um reflexo das tensões externas, assim como o corpo é um território de impacto, onde as forças do mundo colidem, reverberam e ganham forma.

O movimento é impacto vivo. Não é palavra, mas é gesto.

Poderá não ser uma manifestação, mas é presença que se manifesta.

Manifesta-se no peso do corpo que cai, na urgência do pulso que bate, na respiração partilhada entre quem dança e quem assiste. Não reivindica uma causa explícita, mas carrega a memória do corpo que insiste, que não cede ao silêncio. Aquilo que vibra em conjunto, mesmo sem slogan, pode convocar. O corpo não grita palavras de ordem, mas responde com deslocamento, com obstinação, com intensidade. No território subjetivo do corpo em movimento, na dança, pulsa uma ambiguidade evocada por uma presença que carrega sentido, mas que escapa a uma leitura única.

This is not a protest — talvez porque não há uma única causa explícita, nem bandeira hasteada. Há corpos que se agrupam, que se movem em uníssono e em conflito, há percussão que insiste, que vibra, que convoca.

Há gesto. Há presença. Há ruído. Um lugar onde algo pode começar a interferir, inquietar e transformar. Onde o som rasga o silêncio e o corpo rompe o compasso, num gesto de possibilidade.

Num momento histórico em que os corpos são cada vez mais símbolos de discurso político — e onde a expressão coletiva é frequentemente instrumentalizada ou polarizada — This is not a protest propõe uma reflexão sensível sobre a liberdade de movimento, a ambiguidade do gesto e interroga o que significa estar em coletivo. 

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