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CARTA AO CORPO QUE LUTA

NOVA CRIAÇÃO / ESTREIA 2024

"Carta ao Corpo que Luta", é uma peça coreográfica, um solo, que se apresenta como uma carta escrita por uma mulher ao corpo que luta... o dela, o de todos, como um diálogo intimo entre corporeidades, promovendo uma reflexão sobre as lutas inscritas nos corpos, ecoando uma revolução onde o privado se torna público. 

A ideia de construção de um corpo que reflete as suas histórias, resistências e identidades, sem as mesmas restrições ou censuras, mas carregando-as na memória, revela a diversidade e a capacidade de cada indivíduo contribuir com a sua voz, desafiando hierarquias e fomentando a inclusão. Desta forma, o espaço da dança torna- se um espaço de diálogo, onde o corpo luta pela sua expressão, refletindo sobre os valores democráticos de liberdade e igualdade, numa relação entre o passado e o presente. 

Neste projeto, pretende-se estabelecer uma conexão entre algumas das cartas e textos que compõem a obra literária “Novas Cartas Portuguesas” e o trabalho do corpo e expressão artística de coreógrafas pioneiras da dança moderna nos anos 60 e 70, como Martha Graham, Yvonne Rainer, Lucinda Childs, inspirando as revoluções feitas por Marie Chouinard e Pina Bausch, nos anos 80 e 90. Apesar de parecerem distantes, estas duas matérias artísticas partilham o foco no corpo feminino como tema central, assim como na expressão de novas ideias, na quebra de convenções e na exploração da liberdade individual e coletiva, particularmente no que diz respeito ao papel e à representação da mulher na sociedade e na arte. 

A obra "Novas Cartas Portuguesas", publicada em 1972 por Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, e que foi apreendida pela censura do regime do Estado Novo em Portugal, devido ao conteúdo considerado subversivo e desafiador das normas sociais e morais vigentes, reflete uma crítica profunda às condições sociais, políticas e culturais da mulher na sociedade portuguesa. Desafiando normas de género e desigualdades sociais, expressando uma busca por liberdade e igualdade, confrontou diretamente os valores conservadores promovidos pelo regime da época, explorando temas como amor, sexualidade, opressão e resistência, inserindo-se no movimento feminista daquele período, que se fundamentava significativamente nas temáticas relativas ao corpo feminino e à escrita promovida por mulheres. Este confronto culminou num processo judicial contra as três autoras, conhecido como o julgamento das “Três Marias”. 

No início da segunda onda do feminismo, a escrita e o corpo femininos foram temas profundamente explorados, enfatizando a interconexão entre a expressão literária e a corporeidade. Esse período de intensa reflexão sobre a identidade e a autonomia da mulher encontrou ressonância no mundo da dança, onde coreógrafas começaram a imprimir novas narrativas nos corpos que dançavam, especialmente os femininos. Mulheres como Martha Graham, Yvonne Rainer, Trisha Brown e Lucinda Childs, nos anos 60 e 70, através de suas coreografias inovadoras, desafiaram as normas estabelecidas e redefiniram o espaço da mulher na arte da dança, promovendo uma visão do corpo feminino que enfatizava a autonomia, a expressividade e a força, questionando e expandindo os limites do que era considerado o papel "tradicional" da mulher na sociedade e na arte. Utilizando o movimento como uma forma de expressão e resistência, as suas coreografias desafiaram as normas estabelecidas e os seus corpos refletiram questões sociais e políticas, incluindo a luta pela liberdade e igualdade das mulheres. 

As cartas e textos de “Novas Cartas Portuguesas”, continuam a desafiar e a destabilizar as relações de poder no âmbito social, politico e até intimo, promovendo debates contemporâneos sobre temas que, embora possam estar ou parecer superados, manifestam-se de maneira distinta dos da época da sua publicação. 

O corpo continua e continuará a ser um dos instrumentos fundamentais para a transformação e a revolução. Maria de Lourdes Pintassilgo, no pré-prefácio do livro, salienta o corpo como “primeiro campo de batalha” e “lugar preferencial da denúncia”. Esta conceção do corpo, sublinha a sua constante manifestação e luta em prol de valores fundamentais, como a democracia.

FICHA ARTÍSTICA e TÉCNICA

// 50 min. || m/ 6 anos 

// CONCEITO :: São Castro

// COREOGRAFIA:: São Castro

// INTERPRETAÇÃO :: Beatriz Mira

// CONSULTORIA ARTÍSTICA :: António M Cabrita

// DESENHO DE LUZ :: Cárin Geada

// MÚSICA :: ( a definir )

// DIREÇÃO ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA :: José Teixeira

// DIREÇÃO DE COMUNICAÇÃO :: Liliana Rodrigues

// APOIO À PRODUÇÃO :: Tomás Pereira 

 

// PRODUÇÃO :: PLAY FALSE, Associação Cultural (PT)

// COPRODUÇÃO :: CENDREV (ÉVORA)

// APOIO A RESIDÊNCIAS ARTÍSTICAS :: Estúdios Victor Córdon / OPART, Teatro Viriato, AMAC - Auditório Municipal Augusto Cabrita / Barreiro

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